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Persona e a busca pelo Ser

O roteiro de Persona (1966), de Ingmar Bergman, é comovente desde o início. Em um dos primeiros monólogos do filme — a fala da administradora do hospital sobre a condição da atriz — , já está posta a sua principal questão: a autenticidade do ser. A pergunta que ressoa para os espectadores é se esta fidelidade a si mesmo — mesmo que ao estado momentâneo do “eu” — significa voltar-se para dentro, abstendo-se dos padrões sociais que se impõem, ou se significa moldar-se para aparentar aquilo que deseja ser e, por conseguinte, transformar-se naquilo que se parece. Vale, aqui, mencionar, na íntegra, o poético discurso que praticamente abre a obra:

Através da angústia da protagonista, Elizabeth Vogler — a atriz que sentia-se atriz a todo instante — , Bergman torna ainda menos claras as já bastante turvas fronteiras entre o parecer e o ser. Faz-nos perguntar a nós mesmos se, ao longo de nossas vidas, parecemos mais do que fomos. Neste sentido, norteado pelo enigmático enredo de Persona e pelos significantes que compõem toda a sua atmosfera — o silêncio de Elizabeth, o título do filme e mesmo o nome da enfermeira, por exemplo –, este trabalho se propõe a explorar os limites nebulosos da identidade, enquanto criação individual e inscrição no código, e os efeitos que o aproximar-se do ser produz sobre o parecer, e vice-versa.

Em seu ensaio intitulado A Pele de Cobra, o diretor reflete, atravessado por suas memórias e fantasias pessoais, sobre o que de si existe em suas obras e sobre sua relação com a arte. Para ele, a arte, no geral — para além do Cinema –, deve ser experimentada através de uma relação que não é pré-codificada, que não busca — porque, em última instância, não possui — sentido. Bergman chega a escrever, inclusive, que a arte não detém mais a capacidade de determinar ou mesmo influenciar o desenvolvimento de nossas vidas.

O termo hipócrita nasceu nos palcos, utilizado, em grego, para designar o ator — hypokrites. Significava, portanto, nada mais que aquele que desempenha papéis. Com Platão, porém, o ator será aquele que afasta-se do conhecimento verdadeiro porque produz uma imitação daquilo que já é, em si, uma cópia imperfeita do ideal. Como evidência da vitória da perspectiva platônica sobre verdade e mimesis no pensamento ocidental, pode-se verificar que a suspeição em relação ao uso de máscaras se inscreveu na língua, vinculando-se, negativamente, ao ocultamento da verdade. Articulado a acusações morais, o termo sofre, então, um deslocamento de sentido, e passa a referir-se tão somente àquele que mente. Marca-se, aqui, uma diferença fundamental entre aparência e verdade.

No cerne desta transformação está a de desvalorização do trabalho expressivo do ator. Quando atuação e mentira se confundem, encobre-se todo o esforço de construção artística de um personagem, que demanda um reconhecimento e uma análise não apenas das relações entre indivíduo e sociedade, como também da própria constituição de si a partir dessas relações. O exercício do ator é, em certa medida, extremamente idiossincrático. No que usa a máscara, apresenta a si mesmo. Liv Ullmann, a atriz que interpreta Elizabeth Vogler, confirma esta ideia, em entrevista a David Outerbridge:

Como a profunda associação moralista se enraíza entre atuação e imitação, passa-se a valorizar uma expressividade espontânea em detrimento da expressividade artística, criando personas. A noção de autenticidade começa, então, a se confundir com espontaneidade. Dessa maneira, o poder do ator já não está mais tão disponível, nem sua arte é mais necessária. É exatamente este o problema que se apresenta no início do filme: a busca de Elizabeth, que sente que ser atriz é inútil, pela autenticidade verdadeira. Seu emudecimento é, portanto, uma tentativa desesperada de, supostamente livre das leis da linguagem, desacorrentar-se das aparências e transmitir apenas aquilo que é genuíno e espontâneo, como o grito que emite com a possibilidade de ser queimada.

A busca pela autenticidade é a busca pelo Ser mais essencial, aquilo que seria imutável e, por conseguinte, verdadeiro. A sustentação de uma Verdade, em oposição àquilo que é aparência e falso, é, no entanto, um mero artifício, útil à conservação do homem comum, que precisa de crenças estáveis. Esta demarcação clara entre sujeito e aparência “não passa de um preconceito moral”, como afirma o filósofo Friedrich Nietzsche (1886), em Além do Bem e do Mal:

O emudecimento da personagem é o primeiro e principal elemento condutor de toda a narrativa do filme. O motivo pelo qual a atriz teria optado pelo silêncio, durante toda a película, permanece em suspenso. A princípio, pode indicar uma vontade de ser outras pessoas, de abraçar a infinita possibilidades de caminhos e personas, de alcançar um mutismo primitivo do qual qualquer discurso provém — que Lacan denomina alíngua. Alíngua é a língua do desejo, da expressão indeterminada e ilimitada da vontade humana. O que se manifestasse desta mudez seria, portanto, genuíno.

Paradoxalmente, o que se observa é que a transgressão de Elizabeth Vogler à condição de alíngua é significante, justamente, pelo medo que sente diante desta vastidão de sentidos, que se apresenta como um campo de vias infinitas que, simultaneamente, ampliam e delimitam o ser. A atriz paralisa e se esgota em seu silêncio porque ele é uma fuga de outros seres que são reais, constitutivos dela, e que precisam, portanto, serem afirmados para tomar forma.

Não suspeitar do que se é pode parecer, numa leitura psicanalítica, o avesso daquilo que se propõe na conhecida máxima freudiana “ali onde Isso era, é meu dever que Eu venha a ser”. Entretanto, o não suspeitar de si, no sentido que Nietzsche concebe, não significa deixar de revisar e suspender a si mesmo, mas, sim, reiterar tudo aquilo que se descobre ser no trabalho constante de análise — sentido, portanto, em completa ressonância àquele apresentado por Freud.

Alma e Elizabeth, na medida em que se aproximam cada vez mais, passam a ser retratadas como a mesma pessoa. Talvez se possa afirmar que são duas personas de uma mesma pessoa: Alma, que personifica o pecado e a imoralidade sob um aspecto quase infantil e inocente; Elizabeth, madura, introvertida, marcada por uma repressão profunda de seus desejos. Em algum aspecto, se assemelham, respectivamente, à configuração do Isso e do Supereu na construção do Eu.

São os dois polos das várias dicotomias que se apresentam no filme: rosto-máscara, realidade-aparência, eu-outro, real-imaginário, palavra-silêncio, alma-corpo, sombra-luz. Em última instância, são as várias dicotomias que nos constituem como seres humanos, sendo a principal delas o conflito psíquico entre Elizabeth, aquela que recalca e adoece, e Alma, aquela de onde provém a cura.

Laila Algaves Nuñez é nascida no Rio de Janeiro, em 1997, formada em Cinema pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e mestranda em Estética e Estudos Artísticos com especialização em Fotografia e Cinema pela Universidade Nova de Lisboa. No campo das artes visuais, possui interesse particular em fotografia contemporânea e videoarte. Atua profissionalmente como fotógrafa, montadora e produtora de conteúdo digital. E-mail: laila.algaves@gmail.com

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